A tensão entre Guiana e Venezuela atingiu um novo patamar após um suposto ataque de uma gangue venezuelana a soldados guianeses na região de Essequibo, rica em petróleo e recursos naturais. O incidente, que deixou seis militares feridos, foi classificado pelo presidente da Guiana, Irfaan Ali, como “grave” e “levado muito a sério”. Enquanto a Guiana reforça suas tropas na fronteira, a Venezuela nega as acusações, chamando-as de “montagem vil”. O Brasil, por sua vez, mantém tropas em alerta e planeja uma grande operação militar na região.
O ataque
A tensão escalou na segunda-feira, dia 17, quando “seis soldados guianeses ficaram feridos em uma troca de tiros com supostos membros de uma gangue venezuelana na fronteira com o país”, conforme noticiado pelo O Globo na terça-feira, dia 18..
A Força de Defesa da Guiana (GDF) afirmou que “um navio de transporte de suprimentos foi emboscado por homens armados e mascarados no trajeto entre a base principal de Eteringbang a Makapa”, ainda segundo O Globo.
As autoridades guianesas declararam que “após a troca de tiros, os assaltantes fugiram, mas não antes de vários membros das forças de segurança sofrerem ferimentos à bala”, e anunciaram que mais tropas foram “mobilizadas para reforçar a presença na área”.
A resposta da Guiana
Em declaração contundente, o presidente guianês Irfaan Ali afirmou: “Estamos levando isso muito a sério. Mesmo que sejam gangues armadas ou quaisquer organizações que operem do lado venezuelano na fronteira, isso é grave. É grave porque eles atiraram contra uniformes oficiais”, conforme reportado pela HGPTV.
O presidente garantiu assistência médica aos feridos e prometeu ação após concluir as investigações: “Vamos concluir a avaliação e então discutiremos uma postura que é importante para a proteção dos nossos homens e mulheres uniformizados e também da nossa soberania.”
Venezuela nega envolvimento e acusa Guiana
A resposta venezuelana veio no dia seguinte, quando o governo de Maduro qualificou o incidente como “montagem vil promovida pelo governo da Guiana que (…) pretende difundir uma falsa narrativa hostil”, de acordo com comunicado citado pelo UOL.
“A Venezuela está investigando os fatos e os primeiros elementos recolhidos indicam que elementos vinculados à mineração ilegal, que operam na Guiana Essequiba sob a proteção do Exército e da polícia da Guiana, foram atacados e ficaram feridos”, acrescentou o governo venezuelano.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela ainda afirmou que “o governo da Guiana, em seu afã de encobrir suas ações ilegais no território em disputa, recorre à desinformação e à propaganda belicista”.
Soldados feridos recebem tratamento em Georgetown
Entre os militares atingidos estão o “Segundo-Tenente Anel Muray: ferimento de bala na perna direita e cabeça; Sargento Kevin Davis: baleado no pé direito e tornozelo”, além de outros quatro soldados com ferimentos diversos, segundo a HGPTV.
As Forças de Defesa da Guiana garantiram que “a saúde e o bem-estar do nosso pessoal permanecem a maior prioridade e todas as medidas necessárias estão sendo tomadas para garantir que recebam o melhor tratamento possível.”
A resposta diplomática
O Ministro de Relações Exteriores da Guiana convocou o embaixador venezuelano Carlos Perez “para condenar e exigir reparação pelo ataque armado”, conforme noticiado pela HGPTV.
As autoridades guianesas lembraram que “de acordo com o direito internacional, a Venezuela é responsável por qualquer dano causado à Guiana ou a seus cidadãos por pessoas agindo a partir do território venezuelano”.
O ministro “insistiu que a Venezuela aderisse à sua obrigação internacional de impedir que seu território seja usado para prejudicar um estado vizinho”.
Conflito histórico sobre Essequibo
O incidente ocorre em meio à disputa territorial pela região de Essequibo, “área de 160 mil km² rica em petróleo e recursos naturais que é alvo de uma disputa entre Venezuela e Guiana há mais de um século”, conforme descrito pelo O Globo.
“A disputa territorial se intensificou em 2015 com a descoberta de reservas de petróleo nas águas do Essequibo, as quais deixam a Guiana com as maiores reservas per capita do mundo”, complementa a reportagem do UOL.
Em 2024, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, promulgou uma Lei Orgânica que prevê a criação do estado da “Guiana Essequiba”, após um plebiscito que aprovou a anexação da área.
A Guiana, no entanto, rejeita o acordo e pediu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que ratifique o laudo de 1899, que definiu as fronteiras em disputa. Maduro, por sua vez, convocou a Guiana a retornar à mesa de negociações.
O episódio coincide com “o 59º aniversário da assinatura do Acordo de Genebra”, documento que estabelece as bases para uma solução negociada da disputa territorial.
Brasil em estado de alerta
Enquanto a tensão aumenta, o Brasil monitora de perto a situação. Segundo a CNN Brasil, as Forças Armadas brasileiras planejam a “Operação Atlas”, seu maior exercício militar de 2025, próximo à fronteira com a Venezuela. O objetivo é treinar tropas para uma eventual escalada de tensão com o regime de Maduro.
Fontes militares relataram que há movimentações suspeitas do lado venezuelano, como a construção de pistas de pouso e acampamentos. A operação, prevista para novembro, contará com 8 mil oficiais e veículos blindados, com foco em Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela.
O que esperar?
O incidente no rio Cuyuni acendeu o alerta para um possível conflito armado na região. Com a Guiana reforçando suas tropas, a Venezuela negando as acusações e o Brasil preparando uma resposta militar, a disputa por Essequibo pode se transformar em um dos maiores focos de tensão na América do Sul.
Enquanto isso, o presidente Irfaan Ali mantém sua postura firme: “Vamos concluir a avaliação e então discutiremos uma postura que é importante para a proteção dos nossos homens e mulheres uniformizados e também da nossa soberania”.