Pesquisadores identificaram um vasto “oceano” escondido a 700 quilômetros de profundidade no manto terrestre. Este achado, relatado na renomada revista Science, trouxe uma nova perspectiva para a formação dos mares. Além disso, abriu caminho para questionamentos sobre a estrutura interna da Terra e suas interações com a superfície. Esse surpreendente reservatório de água subterrânea, encontrado por cientistas de universidades norte-americanas, pode ser a chave sobretudo para entender melhor o comportamento geológico e climático do planeta.
A pesquisa, liderada por cientistas de instituições como a Northwestern University e a University of Southern California, revelou algo inesperado: a existência de um vasto “oceano” oculto a centenas de quilômetros de profundidade. No entanto, ao contrário do que o termo sugere, este oceano não é uma massa líquida de água. Em vez disso, trata-se de moléculas de água presas dentro da estrutura cristalina de minerais conhecidos como ringwooditas. Este mineral, que se forma sob alta pressão nas profundezas da Terra, tem a capacidade única de armazenar grandes quantidades de água em suas moléculas.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas utilizaram uma técnica sismológica inovadora. A técnica envolveu surpreendentemente o uso de 2.000 sismógrafos espalhados pelos Estados Unidos. As ondas sísmicas geradas por mais de 500 terremotos revelaram desacelerações em determinados pontos da Terra. Essas ondas indicam a presença de água nas formações rochosas em grandes profundidades. Esse método permitiu detectar, com precisão, a presença do reservatório subterrâneo de água, impactando principalmente a compreensão sobre o ciclo da água no planeta.
Uma das questões mais intrigantes levantadas pela descoberta deste oceano subterrâneo é sua relação com a origem da água na Terra. Até o momento, a teoria mais amplamente aceita era a de que a água que compõe os oceanos havia sido trazida ao planeta por cometas. Esses cometas colidiram com a Terra nos primeiros bilhões de anos de sua formação. No entanto, a nova pesquisa sugere outra hipótese.
De acordo com os pesquisadores, a água subterrânea pode ter emergido do interior do planeta ao longo das eras. Essa água migrou para a superfície e formando os oceanos que conhecemos hoje. Esse ciclo de infiltração e retorno da água do manto para a crosta terrestre, controlado pelos movimentos tectônicos e vulcânicos, pode ter desempenhado um papel crucial na estabilização dos oceanos. Além disso, essa reserva de água nas profundezas impede que o nível dos mares suba a ponto de cobrir grande parte das terras emersas. Ainda de acordo com os pesquisadores, “se toda essa água estivesse na superfície, apenas os picos das montanhas seriam visíveis”.
Por isso, a descoberta de um oceano subterrâneo a 700 quilômetros de profundidade nos oferece um vislumbre de como ainda temos muito a aprender sobre o nosso planeta. Como apontado no estudo, “entender esses processos pode ser vital para a nossa sobrevivência em um planeta que depende tanto da água”.