No ano de 1950, o cenário internacional era marcado por alianças estratégicas e segredos bem guardados, especialmente no campo nuclear. A França, isolada em termos de cooperação atômica devido ao McMahon Act nos EUA e aos compromissos britânicos com Washington, buscava parceiros dispostos a colaborar em seu avanço tecnológico nuclear. A Alemanha e a Itália, ainda emergindo das consequências da Segunda Guerra Mundial, eram opções inviáveis. Foi nesse contexto que a França encontrou em Israel um parceiro estratégico ideal.
A ligação entre França e Israel começou a se fortalecer devido a interesses comuns, especialmente na hostilidade compartilhada contra Gamal Abdel Nasser, líder do Egito, que apoiava o movimento nacionalista FLN na Argélia. A França, envolvida em uma guerra contra o FLN, via em Israel um aliado natural. Além disso, Israel, cercado por vizinhos hostis e precisando de apoio militar e estratégico, viu na França uma parceria essencial para garantir sua sobrevivência e segurança.
O papel central na criação dessa aliança foi desempenhado por Jacques Soustelle, então Ministro Delegado do Primeiro-Ministro Michel Debré em 1959. Soustelle, um gaullista convicto e presidente da Aliança França-Israel, foi fundamental para aproximar as duas nações. Em junho de 1956, uma reunião secreta no Château de Vemars, nos arredores de Paris, reuniu altos representantes franceses e israelenses, incluindo Moshe Dayan e Shimon Peres. A partir dessas conversas, nasceu o acordo que daria início à construção da usina nuclear de Dimona, localizada no deserto de Negev, Israel.
A usina, projetada para produzir plutônio, foi construída sob a supervisão da CEA (Comissão Francesa de Energia Atômica) e envolveu a colaboração de empresas francesas cuidadosamente escolhidas para manter o segredo do projeto. Oficialmente apresentada como uma fábrica têxtil, a usina de Dimona seguia o modelo da usina nuclear de Marcoule, na França. A construção envolveu mais de 300 franceses, muitos dos quais se mudaram para Israel com suas famílias, estabelecendo uma forte presença francesa na cidade de Beer-Sheva.
Enquanto o trabalho em Dimona avançava, a França reafirmava seu compromisso estratégico com Israel, fornecendo armamentos avançados, como caças Ouragan, Mystères, Mirage III e mísseis MD-620, especialmente desenvolvidos para as necessidades de defesa de Israel. No entanto, após a Guerra dos Seis Dias, a relação entre os dois países começou a se deteriorar. O General de Gaulle, então presidente da França, decretou um embargo de armas a Israel, marcando uma mudança na política francesa em direção a uma reaproximação com os países árabes.
Esse embargo forçou Israel a buscar novas parcerias, levando o país a fortalecer seus laços com os Estados Unidos e a desenvolver uma indústria de defesa nacional autossuficiente, que hoje é uma das mais avançadas do mundo, especialmente em áreas como eletrônicos e tecnologia de drones. A França, que inicialmente ajudou Israel a alcançar a autonomia nuclear, posteriormente forneceu tecnologia nuclear ao Iraque, gerando um novo conflito com Israel.
Em resposta à construção do reator nuclear Osirak no Iraque, com assistência francesa, Israel lançou a Operação Ópera em 1981. Em uma missão ousada, aviões F-15 e F-16 israelenses destruíram o reator iraquiano, eliminando uma ameaça potencial à segurança de Israel. Essa ação destacou a capacidade militar de Israel e a importância de sua indústria de defesa nacional, que havia se tornado uma das mais eficientes do mundo.
Somente com a presidência de Nicolas Sarkozy no início dos anos 2000 as relações entre França e Israel começaram a se normalizar. Durante décadas, a França e Israel compartilharam uma história complexa, marcada por cooperação estratégica e desentendimentos diplomáticos. A colaboração na construção da usina nuclear de Dimona foi um marco nessa relação, influenciando o equilíbrio de poder no Oriente Médio e moldando o futuro da segurança israelense.
A história dessa aliança improvável é um lembrete do papel crucial que a diplomacia e as parcerias estratégicas desempenham na política internacional, especialmente em questões tão sensíveis quanto à proliferação nuclear.