Um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revelou que o derretimento das calotas polares está fazendo com que o nosso planeta gire mais lentamente, aumentando a duração dos dias em um ritmo “sem precedentes”. Os pesquisadores descobriram que a água proveniente da Groenlândia e da Antártida está se acumulando ao redor do equador, alterando a distribuição de massa da Terra.
Embora a Terra seja frequentemente descrita como uma esfera, ela é mais precisamente um “esferoide oblato”, com um ligeiro abaulamento ao redor do equador. Este formato é constantemente modificado por diversos fatores, desde as marés diárias que afetam oceanos e crostas, até os movimentos de placas tectônicas e eventos abruptos como terremotos e erupções vulcânicas.
O estudo utilizou técnicas observacionais avançadas, como a Interferometria de Base Muito Longa (VLBI), que mede o tempo que os sinais de rádio provenientes do espaço demoram para alcançar diferentes pontos na Terra, inferindo variações na orientação do planeta e na duração dos dias. Além disso, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) foi empregado para medir a rotação da Terra com uma precisão de um centésimo de milissegundo, complementado por registros antigos de eclipses que remontam a milênios.
Com a Terra girando mais lentamente, a duração dos dias aumenta em alguns milissegundos em relação à medida padrão de 86.400 segundos. Um fator significativo que contribui para essa desaceleração é a atração gravitacional da Lua, que exerce uma força sobre os oceanos, criando o fenômeno conhecido como “fricção das marés”. Este processo tem causado uma desaceleração gradual de 2,40 milissegundos por século ao longo de milhões de anos.
No entanto, o novo estudo trouxe uma conclusão surpreendente: se a emissão de gases de efeito estufa continuar em um ritmo elevado, o efeito do aquecimento global será maior do que o da atração lunar até o final do século XXI. Segundo Surendra Adhikari, coautor do estudo e pesquisador do Jet Propulsion Laboratory da NASA, entre os anos 1900 e hoje, as mudanças climáticas fizeram com que os dias se tornassem cerca de 0,8 milissegundos mais longos. No pior cenário de altas emissões, o clima seria responsável por prolongar os dias em 2,2 milissegundos até 2100, comparado ao mesmo ponto de referência.
Embora esse aumento na duração dos dias possa parecer insignificante para os humanos, ele tem importantes implicações para a navegação espacial e terrestre. Benedikt Soja, coautor do estudo e pesquisador da ETH Zurich, destacou que conhecer a orientação exata da Terra em qualquer momento é crucial para a comunicação com espaçonaves, como as sondas Voyager, que estão além do nosso sistema solar. Uma pequena variação na posição da Terra pode resultar em desvios significativos na trajetória de comunicação com essas sondas.