Segundo publica pelo jornal Folha de S. Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou, em caráter emergencial, os chefes da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, para uma reunião classificada por auxiliares como “tensa e constrangedora”. O motivo: a revelação de que a Abin teria conduzido uma ação de espionagem contra autoridades paraguaias — supostamente com continuidade já no governo Lula, e não apenas durante a gestão Bolsonaro, como o Planalto havia inicialmente alegado.
O episódio, revelado pelo UOL, envolve o hackeamento de membros do alto escalão do governo paraguaio no contexto de negociações sobre a energia de Itaipu. A denúncia, feita por um servidor da própria Abin à PF, levou o presidente a cobrar explicações diretas dos dois dirigentes, que chegaram a bater de frente na reunião, com versões contraditórias sobre quem autorizou ou teria conhecimento da continuidade da operação.
Após o escândalo vir à tona, o governo se apressou em afirmar que a espionagem havia sido autorizada em junho de 2022, ainda sob Jair Bolsonaro, e que teria sido desativada em março de 2023 por Alessandro Moretti, então número dois da Abin. A nota, divulgada pelo Itamaraty, foi vendida como um “ponto final” e buscava blindar a atual gestão de qualquer vínculo com a operação.
Só que há um problema: segundo depoimentos obtidos pela PF, inclusive o do denunciante, a espionagem continuou já com Corrêa indicado e operando informalmente no comando da Abin — mesmo antes de sua aprovação formal pelo Senado. Investigadores afirmam que há registros de ordens diretas de Corrêa durante esse período.
Na reunião com Lula, Rodrigues teria contestado a versão oficial fornecida pelo próprio Corrêa ao Itamaraty — uma nota que agora pode se voltar contra o governo. A PF também abriu inquérito para investigar não apenas a espionagem, mas o vazamento da operação, que escancarou as entranhas do conflito institucional.
A briga não é nova. Corrêa e Rodrigues já vinham trocando farpas nos bastidores, especialmente por causa da investigação sobre a chamada “Abin paralela”, montada durante o governo Bolsonaro. Corrêa acusa a PF de perseguição e uso político do inquérito. A PF, por sua vez, vê Corrêa tentando blindar aliados e abafar investigações sensíveis.
A disputa entre os dois atingiu um ponto de ebulição diante de Lula e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, que também participou da reunião. A cena foi descrita como “acareação sem aviso prévio”, com Lula visivelmente contrariado com o nível de desgaste causado por um órgão que, em tese, deveria ser invisível.
A operação da Abin teria ocorrido em meio a negociações delicadas com o Paraguai sobre a usina de Itaipu, concluídas em maio de 2024. O episódio arranha não só a imagem do Brasil como parceiro regional, mas coloca em xeque a credibilidade diplomática de um país que sediará a COP30 em novembro deste ano, em Belém.
Corrêa e Moretti devem prestar depoimento ainda nesta quinta-feira (17). A depender do conteúdo, o Planalto terá de decidir se sustenta ou não a permanência de Corrêa no comando da Abin — o que hoje parece cada vez mais incerto.
Enquanto isso, a associação de servidores da Abin (Intelis) acusa a PF de querer enfraquecer a agência, em uma nota que, na prática, confirma a guerra declarada entre os dois órgãos.
Lula tentou blindar o caso, empurrando o desgaste para Bolsonaro. Mas agora, com acusações de que a espionagem seguiu sob seu próprio governo, e com seus dois principais braços de segurança em rota de colisão aberta, o presidente perdeu o controle narrativo da crise.
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