Ele faleceu na noite de segunda-feira (06/01/25), em São José dos Campos, o escritor e poeta Wilson Roberto, aos 59 anos.
A Biografia de Wilson R.
"Das brumas do tempo, a visão de minha mãe espremendo uma laranja em minha boca até hoje me é nítida. Eu estava à mesa numa cadeirinha e era ainda um bebê."
Assim o poeta relata, o que considerava, sua primeira memória de vida. Entre inúmeras turbulências vividas por toda sua infância, Wilson R., encontrou na literatura o acalento que precisava pra sonhar com dias melhores.
“A ilha do tesouro” de Stevenson foi a primeira leitura de que se lembra, seguida de outras histórias que pouco a pouco, construiria o que futuramente veríamos em seus escritos.
Os livros não foram sua única paixão, houve também os computadores "desde antes de ser criada a palavra "informática" como ele adorava afirmar.
Com isso, a vida o levou a acumular experiências diversas : fez programação de computadores, tocava uma fábrica de cimento cola junto a seu irmão mais velho, Márcio, além de duas lojas de materiais de construção, fazia contabilidade, dava aulas de português e iniciou na escrita por influência do convívio com amigos poetas em Taubaté quando também foi colunista para dois jornais locais.
Lançou livros de poesia, gramática, romance e um infantil, fora as antologias que participou. Entre elas, as do movimento literário "Bar do escritor", grupo de autores independentes ao qual orgulhava-se em participar.
Foi candidato à uma cadeira na ABL (Academia Brasileira de Letras), cuja intenção foi única e exclusivamente trazer holofotes para sua tão querida AJL (Academia Joseense de Letras), onde foi presidente por dois biênios consecutivos.
Casou-se três vezes até encontrar sua Musa, casando-se uma quarta, e encerrar sua vida literalmente ao seu lado num leito de UTI.
Na noite de 6 de janeiro de 2025, morre Wilson R. o poeta do chapéu e sobretudo.
Esperou a chegada de longa viagem dos quatro filhos e sua musa para despedir-se um a um.
Deixa saudades nos filhos, netos, amigos e familiares além de um legado literário de importância à nossa literatura.
Depoimentos
Ariane Vitória
Difícil escolher uma lembrança marcante sobre o Wilson. Acho até estranho chamá-lo pelo nome, pois só o chamava de "more" e assim eu também era chamada por ele: "More, olha que ideia legal para uma capa de livro." "Nossa more, muito mesmo!"
Mas já que é pra falar de lembranças, isso me faz pensar nos primórdios do relacionamento há 18 anos, mais precisamente o primeiro dia em que nos vemos (23 de agosto de 2006), brincalhão e tagarela ele disse: "Cê gosta de roça? Não porque eu tenho um terreno no alto dum morro, então estou perguntando pra saber se depois que a gente se casar você topa morar num lugar assim, entende?"
Eu ri e ele também. E assim foi o início de uma longa história com muitas histórias, cheia de cores e letras.
Niara Silva, aquela também chamada de Musa.
Papito sempre fugia do comum. Morando na roça e brincando de ser “agroboy”, como ele mesmo dizia, gostava de ver as uvas, amoras, acerolas e jabuticabas que nasciam no quintal. Amoras colhidas direto do pé pelas mini mãozinhas da Thaina e Manu, uvas que os passarinhos devoraram antes de conseguirmos saborear e, jabuticabas e acerolas que viravam licores - com mais frequência do que sucos.
E foi assim, matando uma garrafa de licor de acerola em uma noite de festa na casa do papito que eu e meu namorado começamos nossa história, há 7 anos atrás ??
Sofia
Meu avô é facilmente a pessoa mais inteligente que eu já conheci. Qualquer coisa que perguntássemos a ele, ele sabia responder. Desde super-heróis até teorias da conspiração, sinto que esse é um dos principais motivos por ele ter sido minha inspiração desde que eu me entendo por gente. 'Quando eu crescer, quero ser escritora, assim como o vovô!' Lembro de escrever e ilustrar historinhas sempre que ia visitá-lo. Ele sempre as via com um sorriso de orelha a orelha e, em seguida, chamava: "More! Vem ver." Posso dizer com toda a certeza do mundo que minha paixão pela leitura e pela escrita vem, principalmente, dele.
Ele se foi, mas as pessoas só morrem quando são esquecidas, e jamais vamos esquecer o poeta do chapéu♥?
Thainá
Uma das primeiras lembranças que tenho do meu pai é sobre música.
Lembro dele, junto ao meu cunhado à época, ouvindo "Misterios da Meia-Noite" de Zé Ramalho. Eu ainda criança fiquei fascinado ouvindo uma musica que continha lobisomens e uma melodia que estranhamente me agradava muito.
Mal sabia eu, que aquele momento, ouvindo aquela musica, moldaria tanto meu gosto musical e embalaria tantos encontros entre eu e ele no futuro.
Nosso canto (desafinado) tantas vezes me alegrou e foi motivo de risos e boas lembranças.
Wilsinho
Lembranças que tenho com meu pai são repletas de arte e humor. Tenho ótimas lembranças da época em que ele deu início à Confraria dos Artistas, onde pude ter aulas de pintura e teatro e também peguei diversos livros emprestados. Sua casa também sempre teve muitos livros a disposição... lembro de ficar lendo revistas e quadrinhos em seu apartamento quando era criança (eu adorava "Mundo Estranho" e "Hagar, o Horrível"). Mas a lembrança que vou citar aqui é de um dia em que eu, Sofia (minha irmã) e meu pai fomos até uma padaria conhecida entre nós pela absoluta falta de higiene do ambiente... e compramos um refrigerante para esperarmos pela Niara (minha madrasta) no Uno do meu pai. Pegamos a lata de refri e um canudo no balcão. Logo percebemos que o canudo e…
Bárbara
Tenho tantas lembranças com meu pai, não convivíamos diariamente mas todos encontros eram marcantes. Ele era um pai nada convencional. Na minha infância, ele morava no bairro Bom sucesso, zona norte de SJC, e eu frequentava a casa dele aos fins de semana, sempre carregada de amigas, acampávamos dentro da sua caminhonete A20. Ele liberava tudo e achava tudo um barato, nessa época aprendi a jogar truco, buraco, fora as infinitas músicas do Raul, Fagner, Zé Ramalho, que aprendi ouvindo ele cantar, bebendo madrugada a dentro com seus amigos, eu adorava ficar ali ao lado dele observando e escutando suas histórias e cantorias.
Meu primeiro "porre" foi com ele, no rapsódias bar, ainda na minha adolescência rs, papai era um bom bebedor.
Como avô, ele era só orgulho…
Ariane
Pai de Ariane, Wilsinho, Sofia e Bárbara
Avô de Thainá, Manuela e Isabela (ainda a caminho)
Filho de José Wilson de Almeida e Aparecida de Carvalho
Como recordar de Wilson R.
Você pode ver o trabalho de Wilson R. no Facebook e também no Book Portugal.
Para matar a saudade de Wilson veja esse bate papo que aconteceu na ZY3, no programa Sanja Cast #016 em Dezembro de 2021.