O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou, em sua ata divulgada na terça-feira (4), uma série de desafios que a economia brasileira enfrenta. A inflação persistente, a desancoragem das expectativas inflacionárias, a volatilidade do mercado de crédito, as incertezas fiscais e os impactos do cenário internacional foram citados principais motivos para a alta da taxa Selic de 12,25% para 13,25%.
Segundo Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, o Copom buscou “passar um tom mais duro do que a leitura feita por parte majoritária do mercado”. Goldenstein analisa que a ata destaca “maior ênfase à desancoragem adicional das expectativas de inflação” e que “o cenário de inflação ficou mais incerto para o Copom”.
A persistência da inflação tem afetado diretamente a população, principalmente com a alta nos preços de alimentos e serviços essenciais.
Segundo o Copom, entre os fatores destacados, estão “a elevação significativa dos preços dos alimentos, em razão principalmente da estiagem ao longo do ano e da alta dos preços das carnes”.
Além disso, “o cenário de inflação de curto prazo segue adverso” com “os impactos da depreciação cambial recente sobre os bens industrializados pressionando preços e margens”, completou a ata.
O Copom ressaltou que a economia e o mercado de trabalho apresentaram desempenho positivo e mantiveram um bom ritmo de crescimento. No entanto, a Warren alertou para a dificuldade em identificar se uma possível desaceleração futura seria consequência da redução da demanda (queda no consumo e nos investimentos) ou de problemas na oferta (custos elevados e restrições na produção).
Além disso, foi mencionado que há sinais iniciais de desaceleração, especialmente no setor de bens e nos mais sensíveis ao crédito. Contudo, a análise exige cautela devido à volatilidade, sazonalidade e revisões frequentes dos dados.
O Copom também demonstrou preocupação com o mercado de crédito. A ata destacou um contraste entre a leve recuperação do crédito bancário, especialmente nas linhas de baixo risco para pessoas físicas, e o forte crescimento do mercado de títulos privados.
Além disso, foi citado o alto comprometimento da renda das famílias com dívidas, apontado como um risco à economia. O relatório da Warren reforça essa preocupação, alertando que esse endividamento elevado pode reduzir o consumo no médio prazo e impactar a atividade econômica.
O Copom alertou para os riscos fiscais, destacando que a confiança dos agentes econômicos no regime fiscal e na sustentabilidade da dívida continua impactando os preços de ativos e as expectativas do mercado. O descontrole nos gastos públicos e o aumento do crédito direcionado podem elevar a taxa de juros neutra, dificultando o controle da inflação.
O relatório da Warren aponta que o câmbio tem reagido principalmente a notícias fiscais no Brasil, à política econômica dos EUA e ao diferencial de juros. Oscilações bruscas na taxa de câmbio podem pressionar a inflação, encarecendo bens importados e insumos industriais.
O ambiente externo também segue desafiador, com diversas incertezas econômicas e geopolíticas. A análise da Warren destaca que “apesar de o cenário-base não ter se alterado significativamente, aumentou, em relação à reunião anterior, a probabilidade de se materializarem cenários mais extremos, com impactos distintos sobre as economias emergentes”.
Além das incertezas inerentes sobre a conjuntura econômica, há dúvidas sobre “a condução da política econômica nos EUA (política fiscal, tarifas de importação, restrições à imigração e reorientações da matriz energética), o que pode afetar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para as economias emergentes”.
O Comitê enfatizou que “um cenário de maior volatilidade global exige maior cautela na condução da política monetária doméstica”. Além disso, “a desancoragem das expectativas de inflação continua sendo um fator de preocupação, pois pode exigir uma política mais contracionista do que seria necessário caso as expectativas estivessem ancoradas”.