Não que o Brasil precisasse urgentemente de mais uma plataforma de checagem de fatos, mas os fundadores de um grupo que se classifica como “progressista” e “cristão” resolveram lançar a sua própria ferramenta mesmo assim. Agora sustentado por recursos da Open Society Foundations, o Coletivo Bereia acaba alimentando o mal que prometia combater.
O Bereia recebeu esse nome em referência a uma cidade citada no Novo Testamento, elogiada pelo apóstolo Paulo como um lugar onde os cristãos se empenharam na busca pela verdade.
A ONG se define como “uma iniciativa sem fins lucrativos, criada por um grupo de pesquisadoras/es, jornalistas, profissionais de áreas das ciências humanas e sociais e organizações dedicados à defesa do direito humano à comunicação, à informação e à liberdade de expressão e ao enfrentamento da desinformação, especificamente em espaços digitais religiosos.”
A organização nasceu em 2019 e é um produto do Instituto NUTES da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A sigla originalmente se referia ao Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde. Hoje, o coletivo não está afiliado à universidade.
O alvo preferencial do Bereia, cujo fundador tem um cargo de diretoria no governo Lula, são figuras conservadoras. O Bereia promete “enfrentar a desinformação que circula em ambientes digitais religiosos”. Mas não é difícil encontrar casos em que a organização divulgou informações incorretas.
Desmentido impreciso
Neste mês, a página de checagem afirmou que o ministro do STF André Mendonça repetiu uma “falsidade que culpa o governo Lula pelo 8 de janeiro”.
Mas Mendonça não culpou o governo Lula pela invasão dos prédios da Praça dos Três Poderes. Ele apenas questionou o porquê de o governo não ter acionado a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) para proteger o Palácio do Planalto quando ficou claro que a Polícia Militar não seria capaz de evitar a tomada do prédio.
Ex-ministro da Justiça, Mendonça lembrou que, durante manifestações na Esplanada dos Ministérios, havia uma equipe da Força Nacional à disposição para agir caso fosse necessário. “Eu não consigo entender, e também carece de resposta, como o Palácio do Planalto foi invadido da forma como foi invadido”, afirmou o ministro.
A publicação do Bereia afirma que Mendonça mentiu porque a Força Nacional precisa ser acionada pelos governadores. Mas, no fim das contas, o próprio Bereia admite que o governo federal tem, sim, o poder de convocar a Força Nacional: “o Ministério da Justiça pode acionar a FNSP para proteger prédios públicos federais sem necessidade de autorização prévia de governos estaduais ou municipais, entretanto, apenas em situações excepcionais, e depende de autorização do presidente da República.”
Essas exceções — como mostra a própria publicação da ONG – incluem “emergências de segurança pública, quando houver riscos ou situações excepcionais que demandem reforço ao trabalho das polícias locais, como grandes eventos ou crises específicas de segurança” e “grave perturbação da ordem pública, quando houver necessidade de restaurar ou preservar a ordem pública em situações que ultrapassem a capacidade das forças de segurança locais”.
Ou seja: a fala de Mendonça não culpou o governo, e tampouco se baseia em uma falsidade.
Fonte: Gazeta do povo