A cúpula da Polícia Federal (PF) intensificou as articulações para colocar o delegado Ricardo Saadi, atual diretor de Combate ao Crime Organizado e Corrupção, na presidência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A tentativa ocorre em meio a um contexto de tensões entre a PF e o Coaf, acentuadas no primeiro turno das eleições municipais, após o Coaf não reportar transações suspeitas de R$ 50 milhões, que poderiam ter sido destinadas à compra de votos, segundo o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues.
Saadi é o principal nome apoiado pela PF para assumir a presidência do Coaf, que está ligado ao Ministério da Fazenda, sob Fernando Haddad. Com uma trajetória de destaque, ele foi superintendente da PF no Rio de Janeiro entre 2018 e 2019, mas deixou o cargo após o ex-presidente Jair Bolsonaro alegar “problemas de produtividade”, sob suspeitas de interferência política. Anteriormente, durante o governo Dilma Rousseff, Saadi comandou o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça.
As divergências entre a PF e o Coaf ganharam força com as mudanças estruturais no conselho, que levaram à saída de diversos policiais federais do órgão e culminaram em atritos internos. Durante as eleições, Rodrigues criticou publicamente o Coaf, alegando falta de colaboração, enquanto o conselho afirmou ter auxiliado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na detecção de movimentações financeiras irregulares.
Internamente, o clima no Coaf se agravou após disputas entre José Carlos Coelho, chefe de operações especiais, e a diretora de inteligência Ana Amélia Olczewski, auditora da Receita. A pressão resultou na saída de Ana Amélia, que foi substituída pela delegada Silvia Amélia de Fonseca, demitida em julho, seguida pela entrada de seu marido, também funcionário do Coaf.
A nomeação de Saadi, se confirmada, pode representar uma tentativa de fortalecer a colaboração entre a PF e o Coaf, especialmente na área de inteligência financeira e combate à corrupção.