O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos na última sexta-feira, 8, revelou um esquema de corrupção envolvendo policiais civis de São Paulo. A delação sugere manipulação de inquéritos por parte dos agentes para proteger integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Essas proteções teriam ocorrido em troca de subornos, entre pagamentos em dinheiro e transferências de propriedades. O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou, em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 11, que afastará os agentes presentes nas denúncias de Gritzbach de suas funções.
A Corregedoria da Polícia Civil abriu três inquéritos para aprofundar as investigações com base nas informações fornecidas por Gritzbach. Homologada em abril deste ano, a delação é composta por seis anexos, nos quais o empresário reuniu depoimentos gravados, mensagens e documentos, conforme informação do jornal O Estado de S. Paulo.
Esses documentos estão sob a custódia do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Entre as denúncias, Gritzbach mencionou policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e dos 24º e 30º Distritos Policiais.
Gravação do empresário e acusações sobre o PCC
As acusações incluem corrupção passiva, concussão e formação de associação criminosa. Em um dos anexos, um áudio de quase cinco minutos gravado por Gritzbach revela uma conversa entre um investigador do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan.
Hassan tem suposta relação com lideranças do PCC. A gravação sugere que a recompensa pela morte de Gritzbach iria de R$ 300 mil para R$ 3 milhões. Além disso, Gritzbach destacou que uma das propinas pagas no esquema teria alcançado R$ 70 milhões.
As denúncias também indicam que a compra de imóveis em áreas como Tatuapé teria relação com a lavagem de dinheiro do tráfico de cocaína. Nas investigações do DHPP, outros nomes como Rafael Maeda Pires, o Japonês do PCC, e Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, tiveram menção pelo pagamento de subornos para escapar de acusações criminais.
Conexões pessoais e investigação
Gritzbach, que conheceu o traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, enquanto trabalhava na construtora Porte Engenharia, alegou ser alvo de conspiração. Ele afirmou que não tem relação com o assassinato de Cara Preta, ocorrido em dezembro de 2021, pelo qual sofria acusação.
As investigações teriam influência em pagamentos ilegais aos policiais. O delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, prometeu apurar as denúncias do empresário nos três inquéritos abertos pela Corregedoria.
“Vamos verificar o que ele disse nos três inquéritos que foram abertos na Corregedoria em razão das declarações para saber as circunstâncias e acusações”, disse Dian.