Jornalista e fundador do The Intercept, Glenn Greenwald revelou informações dos bastidores da política progressista no Rio de Janeiro. De acordo com ele, o apartamento do casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, na capital, funciona como um tipo de bunker ou abrigo do espectro político, e “não há como ganhar uma eleição” sem ir até lá.

As declarações ocorreram em entrevista ao podcast Flow, transmitida nesta sexta-feira (11). Na ocasião, Glenn comentava o crescimento da direita e apontou um declínio por parte da esquerda, que, de acordo com ele, está desconectada da realidade do povo por fazer parte do establishment.

– A realidade da esquerda, mesmo que eles gostem de afirmar que estão representando o povo, eles são compostos pela elite, por pessoas ricas. Eu conheço muito bem a política da esquerda no Rio. Tudo está centralizado no apartamento do Caetano Veloso e Paula Lavigne. Não tem como ganhar uma eleição no Rio sem ir lá – disse Glenn.

Na sequência, Greenwald descreveu como é o apartamento, que ele visitou na época em que seu falecido companheiro estava ingressando na política. David Miranda (PSOL-RJ) chegou a ser vereador e deputado federal, contudo morreu no último ano, um dia antes de completar 38 anos.

– Você chega ao apartamento e é um duplex enorme. Quem mora em cima é a família Marinho, dona do império da Globo. Tem cinquenta servos que são invisíveis trabalhando por trás de uma parede. Tem dois ou três assistentes que colocam sempre vinho no copo dela para sempre ter. No meio disso tudo, celebridades chegando o tempo todo, eles falam: “Ah, o que precisamos fazer para as comunidades?” Eles não têm nada a ver – avaliou o jornalista.

Glenn ainda descreveu um episódio em que David Miranda se sentiu “ofendido” por Paula Lavigne, quando a artista discursou sobre a realidade das favelas de maneira equivocada. Miranda cresceu na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, e sua família reside na comunidade até os dias de hoje.

– David não conseguiu aceitar. Ele explodiu com raiva, e foi muito desconfortável. Foi no apartamento da Paula Lavigne, na primeira campanha de David para candidato a vereador no Rio de Janeiro. Ele ganhou, mas ninguém pode ofender Paula Lavigne daquela forma, na primeira vez, e ter sucesso na política. Mas David não conseguiu ouvir uma mulher que nunca pisa em uma favela falando sobre a vida nas favelas – pontuou.

Caetano ainda fez uma avaliação sobre os motivos de grande parte da população não se identificar com a esquerda atual.

– O problema é justamente isso. As pessoas estão sentindo que o sistema político não se importa com a vida delas nem um pouquinho. Quem chega e consegue falar “nós também odiamos esse sistema político”, eles vão parar aquela pessoa. E a esquerda não tem essa capacidade, porque não tem a fala do povo. Eles são professores na faculdade, são pessoas com doutorado, sociólogos, pessoas bem ricas, celebridades. Eles são parte do establishment – concluiu.