Homenageado nos Estados Unidos pela Fundação Bill e Melinda Gates, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a atenção de uma plateia de endinheirados e filantropos, incluindo o próprio fundador da Microsoft, para defender que os bilionários não podem "ter mais dinheiro que o Reino Unido ou o Brasil".
Ele discursou — e foi aplaudido de pé — na cerimônia de premiação Goalkeepers, no Jazz Lincoln Center, em Nova York, na noite desta segunda-feira (23/9). O evento tinha como mote o combate à fome e à extrema pobreza.
“O problema do mundo não é falta de dinheiro. O problema é que você tem hoje no planeta Terra cinco mega empresários que têm mais dinheiro do que 10 países. Isso não tem explicação. Eu não sou contra ninguém ser rico, eu sou contra as pessoas serem pobres”, argumentou Lula.
“Não é possível uma pessoa sozinha ter mais dinheiro do que o Reino Unido. Não é possível que uma pessoa sozinha tenha mais dinheiro do que o Brasil, que tem 210 milhões de habitantes”, continuou.
A observação de Lula se conecta às propostas que o Brasil tem patrocinado no âmbito do G20, bloco das maiores economias do mundo, atualmente presidido pelo governo brasileiro.
Entre os planos do país, está tentar convencer os pares a adotar a taxação de grandes fortunas e impedir que bilionários mantenham seus recursos em paraísos fiscais para driblar impostos.
Embora tenha chamado de “louvável” a criação da fundação por Gates e as suas expressivas doações para causas humanitárias, Lula afirmou que não são elas que acabarão com a fome no mundo, e sim “políticas públicas”.
"Eu descobri que a fome não leva ninguém à revolução. A fome leva as pessoas à submissão. Então, cabe ao Estado, seja ele americano, brasileiro, chinês, finlandês ou norueguês, ter como premissa básica atender a necessidade dos mais pobres” afirmou o presidente.
"O rico não precisa do Estado. A classe média-alta não precisa do Estado. Quem precisa do Estado são as pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, que não têm uma profissão, que não conseguiram inventar uma Microsoft, que não têm condições. Essas pessoas precisam do Estado", afirmou o petista, arrancando risos da plateia.
Apesar das palavras duras de Lula em relação aos bilionários, Gates não demonstrou desconforto em nenhum momento, sorrindo e aquiescendo durante quase toda a fala do presidente.
Ao apresentá-lo, Gates afirmou que Lula tinha “empatia” pelos pobres pois não havia se esquecido de suas origens e o qualificou como uma "inspiração".
Ao dizer que o "mundo está desgovernado", Lula defendeu uma reforma na governança global e na Organização das Nações Unidas (ONU) para que sejam cumpridos os acordos e protocolos mundiais e seja alcançada a redução das emissões de gases do efeito estufa que ameaçam o planeta.
O presidente brasileiro disse que, em termos de energia limpa, o Brasil será “imbatível”, relembrando que 90% da matriz energética brasileira já é limpa.
No Brasil, Lula e seu governo enfrentam o pior cenário de incêndios nos últimos 20 anos tanto na Amazônia quanto no Pantanal, segundo o Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus, da União Europeia.
Lula admitiu que o governo não estava “100% preparado” para lidar com a situação, mas nesta terça-feira, no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente deve mencionar também o fenômeno El Niño e possíveis atos criminosos que causam destruição ao meio ambiente.
Nessa seara, o Planalto enfrenta críticas de ambientalistas e oposição dentro do próprio governo — como da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente — a projetos para impulsionar a economia como a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas a expansão na produção da Petrobras, chegando a 5,3 milhões de barris por dia em 2030.
"Os mais ricos do mundo estão fazendo foguete e tentando encontrar lugar para morar fora da Terra, e não tem! Nós vamos ter que aprender a cuidar da Terra", afirmou Lula, em referência ao fato de Musk ser dono da empresa espacial Space X, que pesquisa condições de vida em Marte.
Lula ainda aproveitou a ocasião pra defender a criação do Estado Palestino e afirmou que o montante gasto em armas no ano passado poderia ter acabado com a fome de 733 milhões de pessoas no mundo.
Os temas abordados pelo presidente serão os mesmo que ele privilegiará nesta terça (24) em seu discurso na Assembleia Geral da ONU.