Em entrevista ao jornal iraniano Tehran Times, o embaixador brasileiro no Irã, Eduardo Ricardo Gradilone Neto, revelou que o Brasil está buscando fortalecer as relações comerciais e culturais com o país persa. Ao mesmo tempo, o diplomata deixou claro que o governo brasileiro condena veementemente a guerra na Faixa de Gaza, o que pode gerar atritos com Israel, tradicional aliado de muitos países ocidentais.
“Infelizmente, as relações não são boas com a atual administração israelense, embora os respectivos povos tenham uma forte amizade e tenhamos laços sólidos e históricos. Nosso embaixador em Tel Aviv foi chamado a Brasília para consultas; estamos quase todos os dias condenando Israel por suas atrocidades em Gaza; expressamos nossa indignação em relação aos atos do atual governo israelense em todos os fóruns multilaterais, incluindo a Corte Internacional de Justiça.”
A declaração do embaixador sobre a guerra em Gaza coloca o Brasil em uma posição delicada. Ao criticar Israel, o país pode distanciar-se de importantes parceiros comerciais e políticos. Por outro lado, ao fortalecer os laços com o Irã, o Brasil demonstra sua intenção de ampliar suas relações internacionais e buscar novos mercados.
Além da questão da guerra em Gaza, a entrevista também trouxe à tona o papel da ex-presidente Dilma Rousseff na liderança pela criação de uma moeda comum para os países do BRICS. A iniciativa, liderada por Dilma, é vista como uma forma de reduzir a dependência dos países emergentes do dólar e fortalecer a cooperação econômica entre eles. No entanto, a proposta é controversa e enfrenta ainda muitos desafios, estando ainda na fase de “avaliação de consequências”.
“Nossa ex-presidente Dilma Rousseff preside o banco do BRICS onde essa questão está sendo discutida. Ela precisa ser examinada por diferentes pontos de vista e avaliação de consequências dependendo da abordagem. Teremos mais informações sobre isso quando a Rússia apresentar seu relatório de sua presidência rotativa após a reunião dos presidentes do BRICS no final do ano.”
O embaixador brasileiro também revelou que Brasil, Turquia e Irã já trabalharam juntos em negociações importantes no passado, mas que foram sabotadas por grandes potências. Embora não tenha especificado quais negociações foram essas, a revelação sugere que os três países já tiveram uma cooperação mais estreita em algum momento.
“Abbas Araghchi [ex-ministro das Relações Exteriores] foi durante anos o negociador do Irã em questões nucleares, algo em que Brasil, Turquia e Irã estiveram envolvidos em negociações muito sérias anos atrás, com resultados bem-sucedidos, que foram infelizmente boicotadas por grandes potências.”
A notícia da intensificação das relações entre Brasil e Irã foi publicada no portal de notícias iraniano Mehr News Agency nesta quarta-feira, 28 de agosto. A aproximação entre os dois países ocorre em um momento de crescente tensão geopolítica no Oriente Médio.