Na última quarta-feira, dia 12, o ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller, desabafou sobre a pressão que sofreu do governo para realizar um leilão de 263 mil toneladas de arroz importado. O evento, que ocorreu na terça-feira, dia 11, foi anulado por suspeitas de irregularidades, e Geller afirmou que está sendo feito de “bode expiatório” pelo insucesso do leilão.
Após suspeitas de favorecimento ao seu filho, Marcello Geller, sócio em uma das corretoras participantes do leilão, Neri decidiu deixar o cargo. O leilão, que movimentou R$ 1,3 bilhão, teve como vencedoras quatro empresas, sendo que três delas não atuam no mercado de grãos. A pressão pela realização do leilão gerou grande desconforto no setor agropecuário.
Com isso, Geller relatou que a Casa Civil e o Ministério da Agricultura exigiram a compra da grande quantidade de arroz, sendo que ele se sentiu pressionado a organizar o leilão, que acabou fracassando devido à falta de orientação e organização adequada.
Quais foram os erros no leilão de arroz?
Em entrevista, Neri Geller revelou que as condições técnicas não foram seguidas para a realização do leilão. Este ponto foi corroborado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reuniões para discutir o assunto. Segundo Geller, o processo foi apressado e careceu de uma abordagem mais alinhada às normas técnicas estabelecidas para leilões desse porte.
“A gestão foi comprometida pela falta de orientação e decisão unilaterais. Isso precisa ser revisto para evitar futuros problemas,” pontuou Geller.
Favorecimento ou Coincidência?
A questão do favorecimento gira em torno das suspeitas de que Geller teria beneficiado seu filho e Robson Almeida de França, sócio nas corretoras participantes do leilão. Neri Geller negou veementemente essas alegações, afirmando que seu filho começou a atuar no leilão de grãos após deixar o cargo de assessor, tendo participado de outros leilões no ano passado.
“É injusto dizer que houve favorecimento. Meu filho e sócio participaram de forma legítima do leilão, conforme as regras estabelecidas anteriormente,” defendeu Geller.
Qual é o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul?
Parte da decisão de realizar o leilão de arroz importado foi tomada devido às enchentes no Rio Grande do Sul, que é responsável por 70% da produção nacional do grão. Embora 80% da colheita tenha sido completada antes das enchentes, a logística e o transporte do produto ficaram prejudicados, justificando a necessidade de importação.
Neri Geller mencionou que, apesar da perda de 500 mil toneladas da safra, a situação poderia ser manejada com uma importação mais gradual e melhor organizada. Ele ressaltou ainda o crescimento da produção no Centro-Oeste e a possibilidade de adquirir arroz de outros países do Mercosul.
Impacto e Futuro
Geller, que tem uma carreira política de mais de 30 anos, pediu que a Polícia Federal investigue se houve algum direcionamento incorreto de sua parte. Ele destacou que sua trajetória não deve ser desconsiderada e que está sendo injustamente acusado no caso do leilão de arroz.
“Meu compromisso sempre foi com a transparência e a ética. Espero que a verdade prevaleça e que minha reputação não seja manchada por este episódio,” concluiu Neri Geller.
A anulação do leilão e os desdobramentos da situação continuam gerando debates acirrados no setor agropecuário e no governo. O futuro das políticas agrícolas no Brasil e a gestão de crises como a das enchentes no Rio Grande do Sul permanecem como tópicos centrais na agenda pública.